26 de abr. de 2014

O banheiro


Na rodoviária de Santa Maria, fui ao banheiro e na hora de lavar as mãos avistei uma tomada. Pimpa! Achei que podia aproveitar o tempo e dar uma carga a mais no celular pra garantir. Lá estava eu presa à parede pelo fio aguardando tranquilamente rumo aos 100%. Entra uma mulher correndo, abre porta e entra. Ouço alguns gemidos e penso comigo “a coisa ali tá complicada” e continuo à espera do celular. Os gemidos cessam e pelo espelho vejo a pessoa pelada, desesperada atrás de papel. Ok,
tentei não me abalar e ser compreensiva. Afinal, ela entrou tão apressada que esqueceu de pegar o papel que fica na entrada do banheiro e pelo visto não é tímida. Ponho minha atenção no celular de novo pra disfarçar a surpresa e o constrangimento. Mas daí olho pro espelho de novo e vejo a criatura, de porta aberta, limpando aquela bunda enorme virada pro meu lado!!! Olhei o celular, tinha carregado só uns 4%, mas ficar ali e arriscar que o próximo passo daquela louca fosse esfregar o papel sujo na minha cara não valia o risco. Puxei o carregador da tomada e saí o mais rápido que pude. Pensei “só comigo mesmo... eu me meto em cada uma”. Confirmei a lenda de que atraio loucos. Andei um pouco pelo corredor, disfarçando pra fazer tempo e ver se a louca saía do banheiro. Não estava satisfeita só com 4%, já era uma questão de honra a carga total. Ela saiu. Esperei que tomasse uma distância segura e voltei. Lá estava eu novamente em busca dos 100%. Fiquei uns segundos em completo silêncio achando que estava sozinha no banheiro. Quando vejo, do nada, uma das portas se abre e sai a servente falando ao telefone. Eu acho que ela estava falando, pois movia os labios, mas eu não ouvia nada. Simplesmente nada, num lugar, onde qualquer sussuro ecoa. Pensei comigo que ela podia dar um curso pro pessoal que vejo gritando intimidades no celular dentro de ônibus. Ela também pensava estar sozinha, quando percebeu que não, vi a surpresa estampada no seu rosto, deu meia-volta pra “casinha” e fechou a porta. Só percebi que continuava falando ao celular porque às vezes algum pequeno som escapava. Juro que queria aprender essa técnica. Entram mais duas no banheiro e eu continuo lá. 96%. Uma delas tem um carrinho de bagagem e talvez pela minha presença preferiu deixar a porta entreaberta para poder vê-lo. 97%. A mulher da bagagem sai e comenta sobre o frio. 98%. Uma mãe entra para levar o filho ao banheiro. Ele está com um abrigo do Inter e se diverte com o aparelho de secar as mãos. 98% e meu ônibus sai daqui uns seis minutos. 99%. Entra uma moça, vai para a outra tomada vaga, tira uma chapinha da bolsa e começa a dividir o cabelo. Fico observando e penso comigo que se esse banheiro tivesse um chuveiro seria um sucesso. Finalmente os 100%, tiro o carregador da tomada, deixa a moça da chapinha de “dona do campinho” e saio correndo pra pegar o meu ônibus. Entro no ônibus, está frio, me acomodo e o cansaço me vence. Durmo e não uso quase nada da bateria que tanto fiz questão de carregar. Mas confesso que fiquei muito curiosa pra saber o que aquela moça presenciaria no tempo de alisar as madeixas.

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