Sabe o que me deixa bastante incomodada?
Que apesar de toda a dita evolução da humanidade, todo o progresso tecnológico,
toda a falada mudança de valores, liberdade e qualquer outra conversa semelhante que
ouvimos por aí, algumas coisas simplesmente não mudam. Em pleno século XXI
ainda nos deparamos com os ditos “casos passionais” estampados em páginas policiais. É
triste. É revoltante. Nem vou entrar no mérito dos motivos. Nada justifica. O
Dia Internacional da Mulher está aí, batendo na porta, e me pergunto até quando
nós vamos sofrer violência?
Até quando vamos ser desvalorizadas porque temos
jornada dupla? Até quando seremos julgadas e rotuladas de vários adjetivos
pejorativos porque ousamos romper com a hipocrisia sexual? Até quando vamos ver
olhares maliciosos quando ousarmos ocupar um cargo do dito “mundo masculino”?
Até quando vamos sofrer violência sexual porque queremos usar uma minissaia?
Até quando vamos apanhar porque o “companheiro” (se é que se pode usar essa expressão
pra esse tipo) bêbado (ou sei lá que outro tipo de doença) resolve descontar em nós
toda sua frustração? Até quando vamos ser encontradas mortas porque dissemos “basta”?
Segundo algumas línguas duvidosas crime
passional é o crime cometido por paixão. O que menos esteve presente nos casos
abaixo foi a tal paixão. Nenhuma delas morreu do ímpeto, de um rompante ou de
uma reação. Foram crimes premeditados por aqueles que um dia se encantaram, se
apaixonaram e certamente trocaram carinhos, carícias e juras como todos os
amantes. Dizem que há uma linha tênue que separa o amor e o ódio. Tenho
dúvidas... E é a única certeza de que tenho. Mas desejo realmente que o ser humano
consiga lidar com as mudanças e parem de apelar pra violência. Gostaria de não
ver/ler mais esse tipo de notícia... Mas já cantava Cartola que, "o mundo é um moinho e
vai triturar teus sonhos tão mesquinhos, vai reduzir as ilusões a pó".
Em pleno ano 2012 ainda há muitas
lutas para o gênero feminino. Ainda teremos que administrar várias situações no
meio profissional, emocional, e nesse tumulto todo desviar dos doentes que
incorporaram a ideia de que somos o “sexo frágil” e se acham no direito de nos
violentar desde os tempos de Adão e Eva.
Querem fazer uma homenagem no dia 8? Deem
carinho, atenção, respeito, valorização, reconhecimento. Sejam companheiros de
verdade só pra variar. Sejam homens e não ratos. Seria bom só pra começar.
Infelizmente esse texto não é uma obra de ficção.
Foi produzido durante o julgamento do caso Deise
quando seu assassino foi condenado a 21 anos de reclusão.
Diante de notícias de casos recentes,
da lembrança dos fatos de 1998;
outros casos foram vindo à memória
e resolvi exorcizar minha indignação aqui.
Ele é um desabafo e destinado
a um grupo de homens (não todos),
pois que fique claro que há homens e homens.
* Minissérie exibida na Rede
Globo em 1982 e slogan feminista nos anos 80.
Jornal Gazeta do Sul em 2009
Jornal Gazeta do Sul em 2012
7 CASOS
Daniela
Perez
22 anos
Atriz
Encontrada com mais de 20 tesouradas no peito
Rio de Janeiro
(1992)
Deise
Charopen Belmonte
23 anos
Professora
Morta e esquartejada
Santana do Livramento
(1998)
Sandra
Gomide
32 anos
Jornalista
Morta a tiros pelas costas
Rio de Janeiro
(2000)
Eloá
Cristina Pimentel
15 anos
Estudante
Morta a tiros
São Paulo
(2008)
Margarete
Lawish
28 anos
Assistente Social
Encontrada estrangulada no meio do mato
Santa Cruz do Sul
(2009)
Raquel
Campos
37 anos
Comerciante
Morta a tiros
Lajeado
(2010)
Eliza
Samudio
25 anos
Modelo e atriz pornô
Desaparecida
Rio de Janeiro
(2010)
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