Algum
tempo atrás presenciei uma cena que me perturbou. Eu passava apressada por uma
das praças centrais da cidade quando algo se destacou no meio do movimento da
rua. Era uma senhora de uns cinquenta anos talvez, sentada num banco da praça,
fumando e chorando desesperadamente. Ela olhava pro nada e chorava. Chorava de
tremer o corpo. Aquela cena me tocou. Tive vontade de me aproximar e perguntar
se podia ajudar, mas não fiz. Pensei em fazer, mas não fiz pelo tempo que não
tinha para ouvir naquele momento. Isso me doeu.
Tempo
depois em um bate papo com amigos, um deles comenta que viu uma cena que o
deixou mexido e descreve a mesma que presenciei. Contei que tive vontade de me
aproximar e ele também disse que teve, mas ficou constrangido por pensar ser
uma invasão. Chegamos num ponto da questão, pois ele não se aproximou por
pensar estar sendo um intruso, e eu penso que o fato dela chorar em público
dessa forma era um pedido de socorro, mas me omiti por falta de ter o tempo,
que penso que ela merecia para ser ouvida. Cada um pelo seu motivo, a deixamos
chorando sozinha, no meio da correria da sociedade contemporânea, alheia ao
todo com sua dor. Não estamos preparados para ver assim a dor do outro tão na
cara. É desconcertante. Nos deixa
constrangidos e sem ação. O que será que se passou naquela vida pra gerar um
choro assim tão sentido? Qual sua história de vida? Que dor é essa que a fez
expor-se assim em público? Será que ela está melhor? Espero que sim. Que tenha
encontrado o conforto em alguém ou algo, apesar de saber que essa cidade pode
ser dura e seca e muita gente adoece da alma pelo estilo de vida aqui quase
imposto. Que seu pedido de socorro nem tão silencioso tenha sido escutado por
alguém e que essa pessoa tenha conseguido de alguma forma dar o conforto de que
ela precisava. E se isso não aconteceu e algum de vocês por ventura presenciar
a mesma cena em alguma praça do centro da cidade, por favor, auxilie. De minha
parte, se a cena se repetir, já assumi que independente do compromisso que
tiver, vou tentar. A mim dói mais o fato de ter sido mais uma a passar, do que
o fato de, talvez, ser uma intrusa. É tempo de parar e perceber o outro.
“Pelos becos, pelos bares, pelos
lugares que ninguém vê,
há sempre alguém querendo uma esperança: sobreviver.” (Vida, Fábio Jr.)
há sempre alguém querendo uma esperança: sobreviver.” (Vida, Fábio Jr.)
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