8 de jun. de 2007

Santos e Loucos - Oscar Wilde

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco. Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
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Peguei emprestado esse texto de Oscar Wilde, porque me deu uma vontade louca de falar sobre meus amigos. Sempre procurei dar importância para as amizadesi, mas de uns tempos pra cá, isso tem ficado muito mais forte em mim. Não sei se posso chamar de maturidade, consciência, necessidade, sei lá. O fato é que cada dia que passa eu agradeço mais por essas pessoas especiais que cruzaram meu caminho (e pelos que ainda vão cruzar), mesmo que não tenham permanecido muito tempo. Gosto, lembro, sinto saudade... e muitas vezes me pego rindo sozinha lembrando dos nossos feitos. Alguém um dia disse que quem tem amigos nunca está sozinho. Concordo, pois mesmo estando eu sem a companhia física deles, eles estão sempre em meus pensamentos e isso me alegra muito. Muitos com certeza não sabem do tamanho do meu apreço, mas isso não é decisivo para mim. Eu me sinto feliz e honrada por tê-los comigo. Como não acredito em acaso, nem que essa seja minha única existência, certamente muitos deles são reencontros. Só posso dizer: sejam muito bem-vindos meus queridos e recebam meu caloroso abraço. Acho que estou um pouco sensível hoje... hehehehe

7 de jun. de 2007

As famosas bolachas da fronteira

Quando cheguei em Santa Cruz do Sul, e comentava que uma das coisas que sentia saudade de Santana do Livramento era um bom café com bolacha, as pessoas faziam uma cara do tipo "não tô entendendo". Queriam logo saber porque eu não corria a padaria mais próxima e matava minha vontade. O que os santa-cruzenses conhecem como bolacha, pros santanenses é apenas bolachinha. Bolachinha pode ser de água e sal, recheada, de leite, etc. Bolacha, bolacha mesmo é outra coisa. Pelo menos pro pessoal da fronteira. É muito comum esse acompanhamento para o café, e padaria que não tem bolacha, não é padaria de confiança. Em Livramento tem até um dito que diz: "Se tu me diz que pão d'água não tem bico, eu te digo bolacha não tem costado" hahaha, que nada mais é do que uma adaptação do "Se tu diz A, eu digo B". Os que não conheciam e provaram, gostaram. E quem é fronteirço, e se foi dos pagos pra outras bandas, com certeza sente falta dessa especiaria da fronteira. Então abaixo, fiz umas fotos das bolachas da fronteira. Ou como dizem os hermanos uruguaios, das galletas. Espero matar a curiosidade, pelo menos visual, de quem nunca na vida viu uma e deixar a dica pra que o dia que tiverem oportunidade experimentem.

6 de jun. de 2007

Vamos rir um pouco? - O Analista de Bagé, por Luis Fernando Verissimo

Certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que, por alguma razão, possuem. Algumas das pessoas mais sensíveis e menos grossas que eu conheço vêm de Bagé, assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas. Mas não adianta. Estas histórias do psicanalista de Bagé são provavelmente apócrifas (como diria o próprio analista de Bagé, histório apócrifa é mentira bem-educada), mas, pensando bem, ele não poderia vir de outro lugar. Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e pé no chão.
- Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho.
- O senhor quer que eu deite logo no divã?
- Bom, se o amigo quiser dançar uma marca antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro.
- Certo, certo. Eu...
- Aceita um mate?
- Um quê? Ah, não. Obrigado.
- Pos desembucha.
- Antes, eu queria saber. O senhor é freudiano?
- Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope.
- Certo. Bem. Acho que o meu problema é com minha mãe.
- Outro...
- Outro?
- Complexo de Édipo. Da mais que pereba em moleque.
- E o senhor acha...
- Eu acho uma pouca vergonha.
- Mas...
- Vai te metê na zona e deixa a velha em paz, tchê!
Contam que outra vez um casal pediu para consultar, juntos, o analista de Bagé. Ele, a princípio, não achou muito ortodoxo.
- Quem gosta de aglomeramento é mosca em bicheira...
Mas acabou concordando.
- Se abanquem, se abanquem no más. Mas que parelha buenacha, tchê. Qual é o causo?
- Bem – disse o homem – é que nós tivemos um desentendimento...
- Mas tu também é um bagual. Tu não sabe que em mulher e cavalo novo não se mete a espora?
- Eu não meti a espora. Não é, meu bem?
- Não fala comigo!
- Mas essa aí tá mais nervosa que gato em dia de faxina.
- Ela tem um problema de carência afetiva...
- Eu não sou de muita frescura. Lá de onde eu venho, carência afetiva é falta de homem.
- Nós estamos justamente atravessando uma crise de relacionamento porque ela tem procurado experiências extraconjugais e...
- Epa. Opa. Quer dizer que a negra velha é que nem luva de maquinista? Tão folgada que qualquer um bota a mão?
- Nós somos pessoas modernas. Ela está tentando encontrar o verdadeiro eu, entende?
- Ela tá procurando o verdadeiro tu nos outros?
- O verdadeiro eu, não. O verdadeiro eu dela.
- Mas isto tá ficando mais enrolado que lingüiça de venda. Te deita no pelego.
- Eu?
- Ela! Tu espera na salinha.

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Luis Fernando Verissimo é simplesmente o máximo. hahahaha Sem comentários...

5 de jun. de 2007

Lua Cheia - Papas da Língua

Eta vidinha da boa / e ela me chama
Tira uma onda comigo / me leva na boa
Cama de gata / parece dona
Eta vidinha sacana / ela é à toa
Ela se amarra / ela viaja na dela
Olha menina danada / não me dá bola
Anda comigo / parece que vai rolar
Vira essa lua lá fora / ela vai embora
Lua cheia / fica doida
Lua cheia / vamos namorar
Lua nova / vida boa
Lua nova / ela quer casar
Ela diz que me ama / mas não pode ficar
Meus amigos me dizem / "ela é estranha"
Ela desaparece / diz que não vai voltar
Vira essa lua lá fora / ela me devora
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Gente é lua cheia! E está linda... Aproveitem.
Para os lunáticos de plantão, Papas da Língua cantando Lua Cheia. Serginho Moah, o vocalista, é natural de Uruguaiana e é tudo de bom... hahaha

4 de jun. de 2007

Metade - Oswaldo Montenegro

Conheci essa poesia através da minha colega e amiga Fátima. Ela simplesmente adora. Já simpatizava com Oswaldo Montenegro, mas depois de ler esse texto desse homem "inundado de sentimentos", passei a ser fã. Achei o texto lindo... Então pra vocês que como eu e como ele são metade o que pensam e a outra metade vulcão, são metade a lembrança do que foram e a outra metade não sabem, deliciem-se com os versos abaixo: